Reverenciando a negritude sertaneja, Elon narra, em “Preto” (composição de Titá Moura), a coroação do tempo ao cercar-se de elementos e personagens da cultura popular do sertão paraibano, homenageando movimentos culturais do Brasil profundo. No enredo do vídeo, quem conta - ou melhor, quem canta - a história é uma pagadora de promessas, interpretada por Elon. Essa personagem é comum nas procissões e festejos do rosário na cidade de Pombal, sertão da Paraíba. O rei-tempo recebe em sua casa o telespectador e os personagens da cultura popular: O Mateus, a Burrinha, o Boi, permitindo-se também entrar na brincadeira; encontra-se com a religiosidade sertaneja e a devoção à Nossa Senhora do Rosário; dança em uma chuva de fitas coloridas que fazem referência aos maracás dos pretos de Pombal durante a Festa do Rosário. No fim, o tempo é coroado em uma criança, que representa a continuidade e a preservação da memória, através da relação com o meio ambiente e a cultura. O legado deste trabalho é resgatar a história e projetá-la no futuro; renovar perspectivas, gerar novas compreensões e ressignificar símbolos a partir das especificidades de um lugar geográfico e de fala, a cidade de Pombal-PB. “Preto” se apresenta sensivelmente como forma de revisitar essa energia ancestral; é o encontro com uma África, muitas vezes invisibilizada pelas mídias, mas que também está presente nos sertões do Brasil de dentro; e pulsante nos passos de dança, no rufar dos maracás, nas cores de suas fitas coloridas que voam ao sol do centro histórico pombalense; nas vozes de aboiadores, cantadores e cantadoras; na religiosidade de seu povo; na Festa de Nossa Senhora do Rosário e na história do sertão paraibano.