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Homenageado póstumo no 17º Fest Aruanda, Eliézer Rolim.

Homenageado póstumo no 17º Fest Aruanda, Eliézer Rolim.

Eliézer Rolim é um dos homenageados do 17º Fest Aruanda, não apenas por sua produção cinematográfica, mas por sua trajetória ímpar no cenário cultural paraibano.

É fortemente lembrado por suas obras que captam o coração de onde veio, a cidade de Cajazeiras, mas para além de cineasta, escritor, dramaturgo, diretor de teatro e cenógrafo, ele era um formador de profissionais.

Sua figura se tornou mítica nos corredores do CTH – onde fica o bloco do curso de arquitetura da UFPB, universidade na qual lecionava – por suas abordagens em sala de aula. 

A disciplina “Oficina de Desenho II”, dada no segundo período, mais do que uma matéria para passar de ano, era comumente descrita pelos alunos como um momento terapêutico devido aos exercícios de relaxamento, respiração e meditação antes da criação artística.

Mas engana-se quem pensa que Eliézer era só “good vibes”, como professor ele também era exigente em relação a todas atividades em sala de aula.

 

“Ele levava diversas leituras e experimentações artísticas para a sala de aula que suscitavam sentimentos inquietantes, porém acalentadores em meio a um ambiente novo, desconhecido e ainda adverso, para mim, que cursava Arquitetura e Urbanismo.”

- Leonam Lomba, ex-aluno de arquitetura

 

Em outro exercício também marcante, Eliézer convidava seus estudantes a se auto conhecerem com o ato de desenhar as ruas de Areia - PB através de sensações, cheiros, texturas, em uma tentativa de fazer com que os alunos se conectasse, ao que há de mais abstrato no mundo. 

Eram desafios muito contrastantes com o espírito modernista e racional ao qual está intrínseco à graduação de arquitetura.  Fazia diferença essas experiências que conectava às sensações que o espaço podia transmitir.

 Aliás, uma das grandes tentativas de Eliézer no curso era provar que existiam alternativas de pensamento e atuação profissional, por isso sempre exigia que seus estudantes vissem filmes, exposições e, principalmente, peças de teatro, arte da qual emergiu.

 

Conheci o teatro num colégio interno de padres e comecei a fazer teatro porque era uma forma muito legal de se comunicar. Depois comecei a escrever  meus próprios textos, não porque eu queria ser autor, mas porque era necessidade. [...]As pessoas tiveram um pouco de preconceito quando comecei a fazer cinema, Federico Fellini e Ingmar Bergman saíram de lugares diversos como teatro e o circo e acho que o teatro é berço de todas as artes”

- Eliézer para o Fest Aruanda em 2019

 

Deste modo, sempre que podia discorria sobre cenografia, o objeto de estudo de uma vida inteira. 

Ocasionalmente relatava que colegas de profissão já disseram que cenários não deveriam ser pesquisados pela arquitetura, ou ainda, que as pessoas enxergavam aquilo como um sinônimo de decoração. Apesar dos dissabores sofridos, a cenografia refletiu em sua extensa produção acadêmica sob o ponto de vista arquitetônico e urbano, além de ter orientado trabalhos de conclusão de curso, estágios supervisionados e projetos de extensão na área, provando sim, que os estudos cenográficos merecem destaque e atenção da academia e dos arquitetos.

Sua obra eternizou-se nas telas do cinema, tendo sempre como cenário a herança cultural e os imaginários do interior da Paraíba. Contudo, apesar de sua aclamada filmografia, era realista e não mascarava os fortes obstáculos na produção cultural do estado e no Brasil.

 

“É difícil fazer um filme na Paraíba  e mais ainda lançar. Conseguir se inscrever no edital e tirar recursos do edital, já é uma premiação. Mas você não tem outro edital para distribuição. Ficamos num mato sem cachorro, foi como aconteceu com Beiço de Estrada. Tive que entrar em outro edital de distribuição, fui selecionado, mas Bolsonaro chegou no governo pegou a Ancine e colocou debaixo do braço[...] - 

- Eliézer Rolim para o Fest Aruanda, 2019.

 

Seu primeiro trabalho no cinema foi O Sonho de Inacim (2009), com José Wilker e Zezita Matos que, além de ter sido o primeiro filme de ficção a utilizar imagem digital, ganhou o prêmio de melhor longa-metragem pela Academia Paraibana de Letras.

 

“Eu conheci Eliézer no filme o Sonho de Inacim, foi onde eu realmente fui trabalhar com ele. E durante as filmagens a gente percebe a importância de ter um ator, diretor e cenógrafo dirigindo um filme pela percepção. Durante todo o filme tinha pequenos detalhes que talvez pudessem passar despercebidos, mas que ele estava sempre atento. Então tinha uma beleza nas cenas.”

- Kalline Brito, Assistente de Produção do filme.

 

Ademais, também dirigiu o média-metragem Eu sou o servo (2011) com Everaldo Pontes.  Seu último filme foi Beiço de Estrada (2018), premiado no Fest Aruanda na competição “Sob o Céu Nordestino” como Melhor filme, Roteiro, Direção, Melhor Ator (Jackson Antunes), Melhor Atriz (Darlene Glória) e Ator Mirim (Rique Messias), além de ter participado por festivais na Europa e no Brasil. 

 

“Ele também foi meu orientador em um projeto de extensão chamado Cinema no Cariri, no qual buscamos compreender um pouco os enlaces entre povo, cidade, arte e cultura paraibanos no Sertão do Cariri, enquanto filmávamos "Beiço de estrada". Nos settings conheci outro Eliezer, que era professor, orientador, mas que ali se transfigurou em um cineasta ávido por traduzir, através das câmeras, o mundo que vislumbrava em sua mente e dar vida ao filme. Rígido, como era em sala de aula, seguia e orientava os rumos no dia a dia para realizar suas aspirações com esmero sem, no entanto, deixar de demonstrar amabilidade e respeito para com quem o acompanhasse.” 

- Leonam Lomba, bolsista do Projeto Sertão do Cariri

 

Eliézer Leite Rolim Filho nasceu em 1961, em Cajazeiras - PB. Foi diretor, professor, cenógrafo, ator, pesquisador, cineasta e arquiteto. Era casado com Rosângela e pai de Kauê e Minna. Faleceu em 02 de fevereiro de 2022, em João Pessoa, sendo uma das 685 mil vítimas das sequelas de COVID-19 no Brasil.

Seu filme Beiço de Estrada (2018)  coroa e encerra a programação do Cine Paraíba neste sábado às 02h 20min.

 

Por: Hugo Salvador de Medeiros (ex graduando de arquitetura, orientado por Eliézer Rolim).


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