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Luzes, câmera, ação: começou o 14º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro

Luzes, câmera, ação: começou o 14º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro

“O momento é de resistência; mas são eles que têm de resistir à gente, porque nós não vamos parar.” As palavras da atriz e diretora Bárbara Paz resumiram o sentimento geral do público presente na abertura oficial do 14º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, na noite dessa quinta-feira (28). Foram proferidas pouco antes da exibição do seu documentário, “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou”, e fecharam as falas da noite com uma percepção clara: cinema é resistência. Com a presença de várias personalidades ligadas à cultura, representantes do governo, cinéfilos, artistas e a imprensa em geral, a solenidade aconteceu na Sala 9 do Cinépolis Manaíra Shopping.

 

Antes dela, o governador João Azevedo, que esteve presente em toda a cerimônia, já tinha dado uma declaração contundente. “Vivemos tempos sombrios, para dizer o mínimo. Os investimentos somem e a cultura é escanteada. Por isso a importância desse festival, que há 14 anos resiste e mostra o valor do audiovisual não só para a cultura, mas também para a nossa economia”, disse. Na ocasião, ele citou R$ 16 milhões de investimentos do governo estadual em vários projetos culturais deste ano e anunciou o lançamento de um edital, em janeiro de 2020, para 14 festivais de cinema na Paraíba.

 

A reitora da Universidade Federal da Paraíba, Margareth Diniz, também fez declarações em prol do incentivo à cultura e teceu elogios aos envolvidos na organização do Fest Aruanda – em especial, ao professor Lúcio Vilar, diretor executivo do evento – e fez um discurso em que citou grandes nomes do cinema mundial para fundamentar a necessidade de investir no setor audiovisual. “Seguiremos chancelando o Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, que é uma importante vitrine do cinema e do audiovisual nacional”, disse.

 

Durante a cerimônia, houve homenagens a José Bezerra Filho (escritor e produtor), Marcus Vilar (cineasta) e Ingrid Trigueiro (atriz) – todos muito emocionados pelo reconhecimento. “É maravilhoso ser homenageada ao lado de pessoas tão ilustres. Dedico esse prêmio a todos aqueles que me ensinaram sobre a arte de atuar, nos sets e nos palcos por onde passei”, disse Ingrid. José Bezerra lembrou as dificuldades para se fazer cinema em 1970, quando ele e o multiartista W. J. Solha produziram “O salário da morte” – primeiro longa-metragem de ficção rodado em 35 milímetros na Paraíba –, enquanto Marcus fez uma dedicação especial do seu prêmio ao cineasta paraibano Manfredo Caldas, falecido há três anos. No final, Ingrid bradou: “Resistência! Não à censura, sim ao cinema!”, sob aplausos de todos no cinema.

 

A abertura contou, ainda, com o lançamento do livro “Mr. Babenco: solilóquio a dois sem um”, de Bárbara Paz, e do Correio das Artes, suplemento do jornal A União sobre o festival. Depois, houve a Sessão Cine Memória, com apresentação do compacto “Walfredo Rodriguez, o primeiro cineasta paraibano”, seguido de um concerto de homenagem ao cinema paraibano e ao maestro Pedro Santos, com o Sexteto Brassil. Por fim, foram exibidos os filmes “A volta para casa”, curta-metragem de Diego Freitas, e o documentário de Bárbara Paz – quem permaneceu no cinema após a exibição, para um bate-papo com o público.

 

A programação do evento, que se encerra no dia 4 de dezembro, acontecerá entre o Cinépolis Manaíra Shopping e o Hotel Aram Beach & Convention, com mostras competitivas de curtas e longas-metragens, sessões especiais, debates, oficinas e painéis em torno do fazer cinematográfico. Chancelado pela UFPB, o Fest Aruanda tem o patrocínio da Energisa (Usina Cultural), da Cagepa e do Armazém Paraíba – via Lei Federal de Incentivos, do Ministério da Cidadania. A entrada é franca em todas as atividades do evento.

 

Mostras – A Mostra Competitiva de Curtas e Longas-Metragens, além das sessões com filmes que não concorrem no festival, começam a partir das 14h desta sexta-feira (29), com o Caleidoscópio Universitário – Mostra Produção Audiovisual da UFPB. Às 16h30, haverá a Sessão Especial, com o curta “Crua” (PB), de Diego Lima. Às 18h, será aberta a Mostra Competitiva Sob o Céu Nordestino de Curtas e Longas-Metragens, com os curtas “DNA-M Deus Não Acredita em Máquinas” (PB), de Ely Marques, e “Fim” (PB), de Ana Dinniz. O longa será “Currais” (CE), de David Aguiar e Sabina Colares.

 

Às 21h , tem início a Mostra Competitiva Nacional de Curtas e Longas-Metragens, com os curtas “Nadir” (SE), de Fábio Rogério, “Um” (SP), de Daniel Kfouri e João Castellano, e “Apenas o Que Você Precisa Saber Sobre Mim” (SC), de Maria Augusta Nunes. O dia se encerra com o longa “Indianara” (RJ), dos diretores Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa. O documentário narra a trajetória da ativista transexual Indianara Siqueira, uma das idealizadoras da Casa Nem, abrigo para pessoas LGBTIs em situação de vulnerabilidade, no Rio de Janeiro.

 

As entradas para as mostras e sessões especiais do 14º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro são gratuitas, e devem ser retiradas com a organização do festival uma hora antes das exibições, no hall do Cinépolis Manaíra Shopping.

 

Debates – A partir da sexta-feira (29), começam os debates e painéis, sempre a partir das 9h, no Hotel Aram e na Sala Vladimir Carvalho (Usina Cultural). A programação tem início com a série Diálogos Audiovisuais Aruanda/Energisa, às 9h, em um debate com o diretor e ator Guilherme Rodio, do curta-metragem de abertura “A Volta Para Casa”. Logo depois, o Diálogos II traz um debate com os homenageados José Bezerra, Marcus Vilar e Ingrid Trigueiro, com moderação de Amilton Pinheiro, curador e diretor artístico do evento.

 

Às 11h, haverá o primeiro painel Aruanda/Cagepa: “A emergência das políticas de preservação e a criação da Cinemateca Paraibana Linduarte Noronha nos 100 anos do cinema paraibano”, com José Maria Pereira Lopes (TV Cultura-SP) e Marília Franco (ECA-USP), moderados por Lúcio Vilar, coordenador e produtor-executivo do Fest Aruanda. À tarde, a partir das 14h, José Maria Pereira Lopes dará início à oficina “Preservação de acervos audiovisuais e a importância da tecnologia na era digital”, que se encerra no dia 3.

 

Oficina – Dois dias antes da abertura oficial do 14º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, teve início a sua programação de oficinas, com o curso prático “A Pós-Produção no Cinema Independente”, ministrado pelo cineasta Ely Marques, no Departamento de Mídias Digitais (Demid-UFPB). As aulas se encerraram nessa quinta, ao meio-dia, e tiveram uma avaliação positiva dos participantes. “Ely tem muita experiência de mercado, o que é muito bom. Temos carência desse lado prático, pois vemos bastante teoria durante o curso”, diz Juliana Oliveira, uma das participantes da oficina. Ela é estudante de radialismo e estagiária da TV UFPB.

 

“Tudo foi muito proveitoso, pois o pessoal trouxe dúvidas e demandas pertinentes, que nos ajudam a pensar melhor a cadeia da pós-produção”, diz Ely, que tem um curta-metragem na Mostra Competitiva Sob o Céu Nordestino. Segundo ele, o Fest Aruanda se confirma como um evento importante em escala nacional, e deverá ser um momento de muitos debates e intercâmbios sobre o fazer cinematográfico – em especial, devido ao momento turbulento pelo qual a cultura passa neste momento, no país. “As perspectivas não são boas. O recuo nos investimentos e incentivos começou ainda no governo Temer, mas agora se acentuaram. É preciso resistir”, ressalta.


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